PANO DE FUNDO:
Jacó, por conselho de sua mãe, fugira de casa para uma terra distante, para a casa de seu tio Labão. Havia enganado ao seu irmão e este intentava matá-lo para se vingar. Quando chegou a Padã-Arã, encontrou-se com Raquel, filha de seu tio. Labão, ao saber que seu sobrinho chegara, levou-o para morar em sua casa. Jacó estava há apenas um mês com ele e este tempo foi suficiente para fazer nascer no seu coração a bela flôr do amor.
Para saber mais acerca da história de amor de Jacó e Raquel leiamos Gn 29:15-20:
“Depois disse Labão a Jacó: Acaso por seres meu parente, iras servir-me de graça? Dize-me qual será teu salário? Ora Labão tinha duas filhas: Lia, a mais velha, e Raquel, a mais moça. Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era uma mulher bonita de porte e semblante. Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por tua filha mais moça, Raquel. Respondeu Labão: Melhor é que eu ta dê em vez de dá-la a outro homem; fica, pois, comigo. Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava” (Grifo meu).
Há algumas lições que podemos tirar para noosso ensino nesta narrativa bíblica. Vejamos algumas delas:
I. A BELEZA DE RAQUEL (17)
Temos lido que Raquel era formosa de porte e de semblante. Tirando a tradução polida da Bíblia, podemos afirmar que raquel era uma mulher bonita de corpo e rosto. Ou seja Raquel era uma gata! Bastou um mês para que Jacó enxergasse naquela bela mulher qualidades (particularmente creio que estas qualidades iam além da beleza física somente) que o fizeram apaixonar-se por ela. Certamente Raquel era uma pessoa cativante e agradável, isto fez com que Jacó ficasse seriamente interessado em desposá-la.
Ao contrário do que se pensa, Deus é um Deus, até certo ponto, romantico. Em IPe 3:7 ele diz: “Maridos,… vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade…” A idéia que a língua original expressa é daquele vaso fino que adorna, enfeita a casa, sendo por isso muito especial e deve ser manejado com todo cuidado e carinho.
Certa vez ao dirigir-se ao profeta Ezequiel chama a sua esposa de “a delícia dos teus olhos” (cf. Ez 24:16).
II. O AMOR DE JACÓ (18)
O versículo 18 inicia-se com uma profunda afirmação: “Jacó amava Raquel”. Nos nossos dias, se há uma palavra cujo significado perdeu muito do seu brilho, é a palavra amor. O que realmente significa amar a alguém? Creio que temos muito a aprender com Jacó nesta área. Jacó se dispôs a trabalhar para seu futuro sogro por sete longos anos para depois obter a mão de sua filha. Esta disposição não era somente da boca para fora, era uma disposição que o levaria as últimas conseqüências na conquista da sua amada.
Nos nossos dias o significado da palavra amor foi tão reduzido que ela é usada para expressar a relação sexual entre duas pessoas que as vezes mal se conhecem. Costuma-se dizer:”ontem conheci uma pessoa e fizemos amor”. Enganam-se redondamente aqueles que pensam que o amor se resume apenas a isto.
O verdadeiro amor é aquele que se dispôe a se dar em benefício da pessoa amada. Amar é se esforçar ao máximo para promover a felicidade da pessoa amada. Pois ao vê-la feliz sentimo-nos realizados por saber que promovemos sua felicidade. O cantor popular Djavan, em uma das músicas que canta, diz: “Vem me fazer feliz porque eu te amo…”, Porém, o verdadeiro amor diz: “Vou te fazer feliz porque eu te amo”. Frustram-se aqueles que partem para o casamento pensando somente em receber. Este é um tipo de amor distorcido e egoísta, que nem mesmo merece ser chamado de amor. Num casamento bem sucedido não deve existir interesse individual. Existe apenas o caminho à dois. Pode ser um caminho acidentado, poeirento e difícil, mas ele é mútuo.
Vejamos, agora, algo mais acerca do amor de Jacó:
III. A PROFUNDIDADE DO AMOR DE JACÓ (20)
É preciso que também atentemos para a profundidade do amor deste homem por esta mulher. Diz-nos o texto sagrado numa frase de uma beleza extraordinária: “Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava”.
O tipo de serviço determinado para Jacó foi pastorear rebanhos de ovelhas, tarefa não muito fácil. Não foram sete semanas, nem mesmo sete meses, foram sete longos anos nos quais o amor de Jacó foi provado e aprovado (sete anos são iguais: a 84 meses / 364 semanas / 2.520 dias). De dia era consumido pelo calor, a noite pelo frio e pela insônia causada pela preocupação com os ladrões e predadores que rondavam o rebanho sob sua responsabilidade (cf. 31:39,40). Por isso afirmo que o amor não olha para si mesmo, mas para a pessoa amada. Não mede sacrifícios, mas prossegue apesar deles.
Se aos nossos olhos o sacrifício de Jacó foi extremo, aos seus olhos apaixonados, os sete longos anos passaram tão rápido que lhe pareceram como uns poucos dias. Ou seja, diante da imensidão do sue amor, sete anos foram reduzidos a quase nada. É desse tipo de amor que a Bíblia nos fala. O amor que se dá, que não mede sacrifícios, que se dispõe a ir até o fim mesmo em meio as dificuldades do dia a dia.
Particularmente, creio que o amor de Jacó era correspondido por Raquel. Pois ao contrário ele teria desistido no meio do caminho. Apesar da narrativa bíblica ser um tanto quanto resumida, posso imaginar a troca de olhares, sorrisos, palavras carinhosas etc. Ao meu ver foi isto levou Jacó a se sacrificar em busca do amor da sua vida, a doce Raquel. Sim, verdadeiramente, Jacó e Raquel se amavam!
IV. CONCLUSÃO
Sabemos, pela Bíblia, que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Ela também afirma que Deus é amor, que Deus tem a capacidade de amar. A maior manifestação de amor foi a de Deus ao oferecer Seu próprio filho para morrer pelos nossos pecados. Não menos importante foi a disposição de Jesus aos entregar voluntariamente para sofrer punição em nosso lugar. Este foi, sem sombra de dúvidas, o maior ato de amor jamais visto em toda a história da humanidade. São atitudes deste tipo que o verdadeiro amor produz. Atitudes totalmente desinteressadas de lucro ou retorno por parte do ente amado.
Para encerrar, gostaria de ler um dos mais belos poemas acerca do verdadeiro amor, ele foi escrito pelo apóstolo Paulo.
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e também tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada seria. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas se não tiver amor, nada disso me valerá.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo protege, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará.
Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor” (ICo 13:1_8,13).
Ai está o retrato do verdadeiro amor, daquele amor que emana das profundezas do coração, o amor altruísta. É preciso resgatar o verdadeiro significado de amar, pois um entendimento errôneo do amor tem frustrado a muitos e destruído lares incontáveis.
Quem conhece toda a história de Jacó sabe que depois ele se dispôs a trabalhar outros sete anos para poder desposar sua amada. E, mesmo ante este novo desafio, Jacó não recuou, pois o combustível que alimentava a sua vontade era o profundo amor que tinha por Raquel.
Jabesmar A. Guimarães