Embora se argumente que existiriam diferentes formas de governo da igreja no Novo Testamento, o contrário é que é verdade. O Novo Testamento fala de apenas uma forma de governo eclesiástico que são vários presbíteros compondo a liderança de cada igreja local.
Já em Atos 11:30, logo no início da Igreja, podemos ler sobre os presbíteros da igreja em Jerusalém. Paulo e Barnabé, em sua primeira viagem missionária, promoveram a eleição de presbíteros em todas as igrejas que haviam fundado. “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido” (At 14:23). Isto indica que o procedimento normal de Paulo era estabelecer um grupo de presbíteros em cada igreja que fundava. Ficamos sabendo que também em Éfeso Paulo deve ter estabelecido presbíteros, pois “De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja” (At 20:17). Além disso, vemos Paulo enviando seu assistente Tito a Ilha de Creta com um objetivo o qual é: “Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi” (Tt 1:5). Também vemos Paulo lembrando a Timóteo que este havia recebido a imposição de mãos do presbitério¹. “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério” (I Tm 4:14).
Há também em outras epístolas a menção aos presbíteros. Tiago escreve: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor” (Tg 5:14). A importância deste texto se deve ao fato da epístola de Tiago ter sido uma carta geral escrita para muitas igrejas e crentes a quem ele chama de “as doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1:1). Isto nos mostra que Tiago esperava que em cada igreja onde sua carta fosse lida existisse um presbitério constituído.
De Pedro podemos inferir a mesma coisa, pois sua carta foi dirigida a várias igrejas que estavam espalhadas nas províncias romanas da Ásia menor (Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia – cf. I Pe 1:1). Ele escreveu: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles…” (I Pe 5:1). Ele também esperava que em cada uma daquelas dezenas de igrejas houvesse presbíteros. Já em Hebreus, embora não apareça a palavra presbítero, vemos que na congregação a qual a carta foi dirigida havia uma pluralidade de líderes. Em Hebreus 13:17 lemos: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas…”
De todos estes textos não podemos deixar escapar pelo menos duas verdades. Em primeiro lugar, nunca vemos nenhuma sugestão que qualquer uma igreja, por menor ou mais isolada que seja, tivesse um só presbítero. O padrão do Novo Testamento é pluralidade de presbíteros. Em segundo lugar, não vemos no Novo Testamento mais de uma forma de governo e sim uma única forma que é de presbíteros em cada igreja local, pastoreando, dirigindo, zelando e cuidando dela.
A própria Palavra de Deus nos diz que desejar o episcopado é desejar uma tarefa excelente (ITm 3:1). A palavra episcopo (bispo) significa supervisor. Ela aparece apenas cinco vezes no Novo Testamento, e em quatro ocasiões se referindo aos líderes da comunidade (At 20:28; Fp 1:1; ITm 3:2). Já em IPe 2:25 refere-se a Jesus como aquele que protege as almas dos salvos.
As palavras presbítero (ancião) e bispo significam basicamente a mesma coisa. Em Atos 20:17, 28 vemos Paulo se dirigindo aos presbíteros onde também os chama de bispos. Aqueles homens tinham a incumbência de pastorear a igreja. Eram eles que deveriam proteger a igreja dos “lobos” (falsos mestres) que nela penetram com o intuito de arrebanhar adeptos a si mesmo através dos seus ensinos errados. Também deveriam estar atentos com os de dentro, pois mesmo entre eles podem se levantar pessoas assim.
Passemos a ver as qualificações bíblicas para aqueles que almejam a função de presbíteros:
Em I Timóteo (3:2-7)
“2 É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; 3 não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; 4 e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito 5 (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); 6 não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. 7 Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo”.
- Irrepreensível: impassível de ser preso, além de reprovação. A palavra não implica somente que o homem deve ter boa fama, mas que ele também é assim reservadamente. Não deve ter nenhum defeito de caráter ou de conduta.
- Marido de uma mulher: Existem as seguintes posições: a) O presbítero não pode ser polígamo; b) deve ser marido de uma só mulher – isso significa que não pode ser casar com uma segunda mulher enquanto a primeira estiver viva; c) não pode casar de novo se a esposa falecer; d) não pode ser solteiro; e) não pode casar-se, pois a igreja seria sua esposa. Entendemos que as posições a e b são as únicas que têm o claro apoio bíblico.
Tomemos por exemplo o ponto d. Se afirmarmos categoricamente que ele tem que ser casado, então se for casado e não tiver filhos também não pode ser presbítero. E tem mais, se tiver apenas um filho(a) também não pode, pois a Bíblia diz que ele deve criar os filhos (cf. I Tm 2:4). A palavra está no plural indicando que ele teria que ter mais que um filho. Mesmo não sendo comum no nosso meio, não há nada claro na Bíblia que impeça que um homem solteiro de bom testemunho seja reconhecido como presbítero.
O Senhor Jesus disse que há aqueles que se fazem eunucos por causa do reino de Deus (cf. Mateus 19:12). Paulo escreveu: “Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; mas o que se casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa, e assim está dividido” (I Coríntios 7:32, 33a). Ora se tanto o Senhor quanto Paulo elogiam aqueles que estão nesta condição, como poderíamos nós achar que ela é um impedimento? Se o fizermos que o façamos por conta própria e sabendo que não encontraremos apoio para tal impedimento na Bíblia.
- Temperante: de mente limpa, equilibrado.
- Sóbrio: auto controlado, moderado.
- Modesto: ordeiro. Implica em um comportamento ordeiro, mas também no cumprimento dos deveres e de uma vida interior também ordenada, pois desta surge o comportamento exterior.
- Hospitaleiro: Tem o dever de manter a casa aberta para receber os irmãos.
- Capaz de ensinar: hábil para ensinar a Palavra de Deus. O que se espera de um bom presbítero é que ele se afadigue na Palavra (cf. I Tm 5:17).
- Não dado ao vinho: escravo da bebida. Indica alguém que se senta por muito tempo com seu vinho.
- Não violento: não dado à violência, não briguento, espancador. Literalmente: “não pronto para bater em seu oponente” ou “não alguém que dá murros”.
- Cordato: não contencioso, não lutador.
- Não avarento: não amante do dinheiro, livre do apego ao dinheiro. Originalmente eram os presbíteros que cuidavam dos fundos financeiros da comunidade. Por isso a recomendação.
- Saber governar bem a sua casa (família): “pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”
- Não seja neófito: recém-plantado, novo convertido. Era uma palavra usada no sentido literal de árvore recém plantada. Como neófito certamente se encheria de orgulho e soberba e seria vítima do mesmo pecado que derrubou Satanás. A soberba e o orgulho.
- Deve ter um bom testemunho dos de fora: não basta ter um bom testemunho na igreja local, mas é necessário ter um bom testemunho no meio dos incrédulos. No meio das diversas classes de descrentes com as quais nos relacionamos. Parentes, amigos,vizinhos, escola, trabalho etc.
Em Tito 1:6-9
6 alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. 7 Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; 8 antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si, 9 apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem.
Omitiremos aqui as palavras que já vimos em I Timóteo e veremos apenas as que não vemos lá.
Irrepreensível como:
15. Despenseiro: mordomo, administrador (de Deus). A palavra enfatiza a entrega de uma tarefa a alguém e a responsabilidade envolvida.
Não pode ser:
- Arrogante: teimoso, obstinado em sua própria opinião, alguém que se recusa a obedecer outras pessoas. É o homem que mantém obstinadamente sua própria opinião, ou assegura seus próprios direitos não levando em consideração os direitos e sentimentos de outras pessoas.
- Irascível: inclinado à ira, de temperamento “quente”. Palavras com esta terminação freqüentemente denotam “hábito”, “costume”. O trabalho pastoral requer paciência e uma pessoa com um temperamento assim traria muitos problemas.
- Não cobiçoso de torpe ganância: cobiçoso de lucro vergonhoso; isto é, alguém que lucra desonestamente. Também pode ser aplicado a pregadores que adaptam o seu ensino aos ouvintes a fim de não perder a oferta ou salário.
Deve ser:
- Amigo do bem: Denota a devoção a tudo aquilo que é excelente.
- Piedoso; isto é tenha um relacionamento exemplar tanto com Deus quanto com o próximo. Pessoa agradável a Deus.
- Tenha domínio de si: autocontrole. Significa o completo autodomínio, aquele que consegue controlar os impulsos apaixonados e mantém sua vontade leal à vontade de Deus.
Ao escolhermos presbíteros faremos bem em observar estas qualificações bíblicas. É através delas que os candidatos devem ser analisados.
A Função dos Presbíteros
Em IPe 5:2,3 lemos: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.”
Fica claro que os presbíteros devem ser exemplo, modelos para o rebanho. O comportamento deles deve refletir as marcas de uma vida pautada na Palavra de Deus. Os presbíteros não devem ser dominadores, mas devem conduzir a igreja através do exemplo de vida. Assim os demais serão levados a imitar o comportamento deles e eles, pelo seu testemunho, ganharão o respeito de todos os irmãos espirituais.
Outro fato a ressaltar e que não há na Bíblia nenhuma distinção de classes dentro da igreja, nenhum tipo de hierarquia. A cabeça da igreja é Jesus Cristo, todos os demais são corpo. Contudo, devemos obediência e respeito para com aqueles que Deus colocou como nossos guias, pois são responsáveis perante o Senhor pelo bem estar da igreja.
Ao presbítero cabe a função de pastorear do rebanho local. Eles devem zelar para que o rebanho receba um bom alimento espiritual. Devem empenhar-se pessoalmente no ensino da igreja, a responsabilidade é deles. Isto não significa que só eles pregarão, mas que estarão atentos ao que está sendo pregado na igreja local.
Resumindo, a função dos presbíteros é exercer a liderança da igreja, esforçando-se para pastoreá-la de forma que o rebanho cresça tanto qualitativamente como numericamente. Eles não devem ser mandões e “donos da verdade”, não devem liderar pela força como opressores, mas devem ter um tipo de vida que dignifique a Deus e sirva de modelo para os outros irmãos, de forma que estes se sintam atraídos a imitá-los.
Leiamos alguns textos sobre a importância e seriedade do pastoreio:
- Is 40:10,11: “Eis que o SENHOR Deus virá com poder, e o seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa. Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente.” Pastoreio carinhoso!
- Jr 3:15: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência”.
- Jr 10:21: “Porque os pastores se tornaram estúpidos e não buscaram ao SENHOR; por isso, não prosperaram, e todos os seus rebanhos se acham dispersos”.
- Jr 23:1-4: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! — diz o SENHOR. Portanto, assim diz o SENHOR, o Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes, e delas não cuidastes; mas eu cuidarei em vos castigar a maldade das vossas ações, diz o SENHOR. Eu mesmo recolherei o restante das minhas ovelhas, de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; serão fecundas e se multiplicarão. Levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e elas jamais temerão, nem se espantarão; nem uma delas faltará, diz o SENHOR”.
- Jr 50:6: “O meu povo tem sido ovelhas perdidas; seus pastores as fizeram errar e as deixaram desviar para os montes; do monte passaram ao outeiro, esqueceram-se do seu redil”.
- Ez 34:1-6: “Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas? Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim, se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram pasto para todas as feras do campo. As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo elevado outeiro; as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a terra, sem haver quem as procure ou quem as busque”.
- Zc 10:2: “Porque os ídolos do lar falam coisas vãs, e os adivinhos vêem mentiras, contam sonhos enganadores e oferecem consolações vazias; por isso, anda o povo como ovelhas, aflito, porque não há pastor. Contra os pastores se acendeu a minha ira, e castigarei os bodes-guias; mas o SENHOR dos Exércitos tomará a seu cuidado o rebanho…”.
- Zc 11:17: “Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho! A espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho direito; o braço, completamente, se lhe secará, e o olho direito, de todo, se escurecerá”.
- At 20:26: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”.
- Jo 10:11-14: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim”.
- Ef 4:11: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.
A Indicação e Reconhecimento de Presbíteros
Ao escolhermos presbíteros faríamos bem em observar estas qualificações bíblicas. É através delas que os candidatos devem ser analisados. Não devem ser avaliados por padrões terrenos tais como: realizações terrenas, fama, sucesso, competência nos negócios, posição social, capacidade intelectual, idade, parentesco, amizade, simpatia, apenas por ser idoso ou pelo grau de instrução (embora eu entenda que uma pessoa que não saiba ler não tem como estudar não podendo, portanto, ser apto para ensinar). O Ensino do Novo Testamento mostra que os presbíteros têm que ser avaliados pelo exemplo em seu viver diário. Isto não é uma opção e sim uma exigência.
Parecem haver, no Novo Testamento, algumas ocasiões nas quais os que serviriam a igreja foram escolhidos por toda a congregação. Apesar dos apóstolos estarem presentes na igreja em Jerusalém, não foram eles que escolheram os sete primeiros diáconos. Pelo contrário eles disseram a igreja: “irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço”. O mesmo se deu na escolha do substituto de Judas, não foram os onze que o escolheram. Lemos em Atos 1:15: “Naqueles dias, levantou-se Pedro no meio dos irmãos (ora, compunha-se a assembléia de umas cento e vinte pessoas)”. Quando precisaram enviar pessoas para transmitir a decisão dos apóstolos aos crentes da Galácia eles o fizeram em comum acordo com a igreja. Tanto a escolha quanto o envio foram feitos pelos apóstolos e presbíteros juntamente com a igreja. Vejamos: “Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los…”.
No retorno da sua primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé, atentaram para a necessidade de estabelecer presbíteros nas novas igrejas. Em Atos 14:23 lemos: “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.” A Bíblia nos dá a entender que a escolha dos líderes se deu através de eleição. A palavra grega usada aqui é (o verbo grego é ) que aparece somente aqui e em II Coríntios 8:19 referindo-se ao irmão que foi eleito pelas igrejas para ser companheiro de Paulo na administração das ofertas recolhidas em favor dos crentes em Jerusalém.
A palavra grega para mão é , e os léxicos da língua grega indicam que significa eleger através do erguer as mãos. Podendo ainda significar apontar, indicar.
Nunca é demais lembrar o alerta bíblico que diz: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem…” (I Tm 5:22). Apesar de necessário, não devemos ter pressa demasiada para reconhecer os presbíteros. Na minha opinião é melhor não ter presbíteros do que ter exercendo a função pessoas desqualificadas biblicamente. O prejuízo é liquido e certo!
A Bíblia diz que: quem “aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (I Tm 3:1). É bom atentar que ela não diz: excelente cargo almeja, ou ainda excelente posição almeja. Se alguém entre nós estiver cobiçando cargo, posição ou poder, certamente esta pessoa ficará tomada de ciúmes, ficará aborrecida e chateada se porventura não for indicada pela igreja. Se isso acontecer é bom dar graças ao Senhor por não ter permitido que tal pessoa fosse reconhecida, pois não estava com a visão bíblica do que é ser presbítero. Seria um péssimo modelo para o rebanho e, mais cedo ou mais tarde, traria prejuízo para a igreja.
Entendemos então, que a indicação e o reconhecimento devem ser feitos pela igreja sob a orientação do Espírito Santo.
A Autoridade dos Presbíteros
É preciso ressaltar que qualquer atitude ou movimento que vise desestabilizar a liderança, trombará de frente com o Deus que levantou a liderança. Toda autoridade é constituída por Deus (cf. Rm 13:1,2). A Bíblia nos ensina a sermos submissos para com aqueles que são líderes na igreja local onde somos membros. Em Hebreus 13:17 lemos: “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” (ARC). Levantar-se gratuitamente contra a liderança é pecado. Tentar minar sua autoridade é pecado. Rebeldia preconcebida e contra a liderança é pecado. Não devemos nos tornar um peso para nossos pastores. É nossa parte procurar tornar fácil a tarefa deles; eles, por sua vez, devem estar cientes que prestarão contas diretamente a Deus pela forma com a qual desempenharam esta função.
É bom lembrar aos presbíteros que autoridade não significa autoritarismo. Paulo foi investido no apostolado por ninguém menos que o Senhor Jesus. Contudo, quando teve que tratar com o pecador da igreja de Corinto, ele não decretou a sua exclusão sozinho. Apesar de ter autoridade para determinar a exclusão, lemos que ele o fez juntamente com a igreja. Vejamos “Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus” (I Co 5:3-5). Paulo exercia autoridade sem ser autoritário.
Outro alerta aos presbíteros pode ser inferido de Tiago 3:1 que diz: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo.” Um dia seu serviço será avaliado com mais rigor. Ou como diz a versão Revista e Corrigida, você receberá “mais duro juízo”. Portanto, é mister que os presbíteros procurem esmerar-se para pastorear a igreja da forma bíblica. Sendo aqueles pastores que pastoreiam mais pelo exemplo que pela imposição.
Por último, devemos atentar para o fato de que há no Novo Testamento lugar para presbítero em tempo exclusivo. Estes são aqueles que dedicam seu tempo em estudar as Escrituras para prover ensino sadio ao rebanho. Prover alimento espiritual de qualidade. Lemos sobre eles em I Timóteo 5:17,18: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário”.
Aliás, na realidade das grandes cidades é praticamente impossível àqueles irmãos que trabalham o dia inteiro ainda conseguirem tempo para exercer o pastorado de forma satisfatória. Sabemos que alguns se esforçam para, depois de um dia cheio e cansativo, fazer visitas e devemos ser gratos a Deus por homens com tal disposição. Mas também sabemos que dificilmente eles conseguirão dedicar o tempo necessário para se esmerar no estudo da Palavra, para visitar, para cuidar dos enfermos, para buscar os fracos e desviados etc. Havendo um presbítero com mais disponibilidade de tempo, esta necessidade seria suprida.
É por isso que nós devemos orar e procurar não ser um peso para os presbíteros. Se a carga se tornar pesada eles perderão a alegria gemerão sob seu peso. E isto, além de não ser bom para eles, não será de nenhuma utilidade para a igreja (c.f. Hb 13:17). Enquanto eles velam por nossas almas, devemos velar por eles em oração e procurar, na medida do possível, oferecer nosso ombro para ajudá-los naquilo que porventura venham a precisar de nós.
Antes de terminar este tópico sobre a autoridade do presbitério, faço questão de frisar que a recente “onda” de constituir um presbítero presidente na igreja local é uma inovação que não encontra respaldo na Palavra de Deus. Não há na Palavra de Deus uma vírgula sequer sobre tal tipo de presbítero. Um presbítero presidindo sobre os outros presbíteros de uma igreja local não é bíblico. Cada presbítero deve ser submisso primeiramente ao Senhor e depois aos outros presbíteros. Se cada um agir assim haverá igualdade e nenhum quererá dominar sobre os outros. É isso que vemos na Palavra.
A Disciplina de um Presbítero
Apesar de criticarmos as igrejas que têm pastor, por supostamente ser ele o “manda chuva”, em algumas igrejas os presbíteros são uma espécie de classe de intocáveis, de inquestionáveis. Contudo a Bíblia nos mostra que os presbíteros estão sujeitos ao julgamento da igreja. Se um presbítero estiver em pecado, pode sim ser denunciado para que a igreja trate com ele. Há, porém, uma séria advertência bíblica quanto a denúncia contra um presbítero. Ela tem que ser bem fundamentada. Às vezes o presbítero terá que tomar decisões ou assumir posições que desagradarão a alguns podendo, com isto, tornar-se o alvo de pessoas mal intencionadas. Por isso a Bíblia adverte: “Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas” (I Tm 5:19). Isto protege o líder de ataques pessoais e dificulta a ação de fofoqueiros maldosos que porventura queiram atingi-lo.
Porém, há na Bíblia espaço para a disciplina de um presbítero. Ele não é intocável e pode sofrer o julgamento da igreja. Em I Timóteo 5:20 lemos: “Quanto aos (presbíteros) que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam” (parênteses meus). O contexto nos mostra que Paulo ainda está falando dos presbíteros. E se o presbítero insistir em heresias ou condutas flagrantemente contrárias à Palavra de Deus? Aquele presbítero que teimar em viver fora dos padrões bíblicos deve ser repreendido publicamente. A repreensão pública do pecado de um líder mostrará a congregação que os líderes não esconderão tais questões dos membros e aumentará a confiança na integridade do presbitério.
A razão para a repreensão pública é que o mau exemplo do presbítero pode ter o efeito negativo de contaminar outras pessoas na igreja. O mau exemplo de um líder pode servir de desculpa para que o rebanho leve uma vida espiritual relaxada.
Como somos dados a exageros, é bom lembrar que esta repreensão não deverá ser feita por qualquer um. Nestas alturas dos acontecimentos os outros presbíteros já deverão ter conversado com o presbítero que teima em manter uma atitude pecaminosa. Cabe a eles esta repreensão pública. Devemos lembrar que Paulo estava se dirigindo a Timóteo, que era um líder. Não me parece certo que qualquer um levante numa reunião da igreja para repreender a um presbítero.
A Destituição de um Presbítero
Uma pergunta que sempre surge é quanto à duração da função de um presbítero. É um cargo vitalício ou pode ser perdido? Ao contrário do que se pensa este não é um cargo e muito menos um cargo vitalício. Já vi presbíteros desajustados que quando agiam errado e eram questionados usavam frases tais como: “Ai daquele que levantar a mão contra o ungido do Senhor!” Fazem isso para se impor pelo terror e não, como é bíblico, pelo exemplo. Como não lideram pelo exemplo lideram pelo terror psicológico. Se por um lado não devemos nos rebelar contra um líder da igreja, pois como já vimos é pecado grave contra o Senhor. Por outro lado, se a igreja está vendo que o presbítero perdeu as qualificações bíblicas, ela deve procurá-lo e com todo o respeito e cuidado mostrar que ele está prejudicando o rebanho ao qual deveria cuidar. Mais uma vez é de bom senso lembrar que isso deveria ser feito depois que os outros presbíteros já tivessem conversado com ele em particular e ele teimasse em manter sua conduta irregular.
Quando alguém perde as qualificações bíblicas, não há como a igreja mantê-lo como presbítero. Mas este deve ser um processo longo que deverá será regado em constante oração pedindo ao Senhor que ilumine o irmão de forma que ele possa voltar ao bom senso. Se isto acontecer a igreja deve se alegrar, mas caso não aconteça e ele teimar em viver em desacordo com a Palavra, deve, como vimos acima, ser repreendido publicamente e ser disciplinado. Sendo repreendido publicamente, perde a condição de modelo. Perdendo a condição de modelo perde a condição de ser presbítero.
Sei do caso de um presbítero que já caiu no pecado de adultério por mais de 4 vezes e ainda é conservado na função. Fico me perguntando que autoridade teria um irmão assim para repreender um membro que está neste pecado ou para ensinar a igreja sobre este assunto. Este é, para mim, o exemplo de um irmão que está desqualificado para exercer a função de presbítero.
Desde que o Senhor tenha misericórdia de nós, nos ilumine e nos ajude a estarmos em total dependência do Espírito Santo, nesta fase onde, em obediência à Sua Palavra, apontaremos e reconheceremos os presbíteros da nossa igreja local. Que nesta escolha a vontade do homem desapareça, seja tornada nula e prevaleça a vontade do Senhor.
Amém!
[¹] Com presbitério me refiro especificamente ao grupo de presbíteros de uma igreja local e nunca a um presbitério regional, estadual ou nacional, pois estes não existem na Bíblia.
Jabesmar A. Guimarães