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O Sustento do Obreiro

Não poderíamos falar de missões sem falar do papel da igreja na obra missionária. E, como sempre deve ser, devemos nos voltar à Bíblia para buscar orientação neste sentido.

É no livro de Atos dos Apóstolos que encontraremos uma boa base bíblica para nos orientar neste sentido. No capítulo 13 de Atos encontramos Barnabé, Paulo e João Marcos dando início à primeira viagem missionária narrada nas escrituras.

É notável o fato de Lucas não começar pura e simplesmente a narrar a viagem a partir do momento em que eles “puseram o pé na estrada”. Antes, ele narra os acontecimentos que antecederam esta que seria a primeira de três viagens missionárias. Ele deixa bem claro que Paulo e Barnabé foram , por orientação direta do Espírito Santo, separados pela igreja para a obra de evangelização.

Portanto, é de suma importância olharmos para o modelo bíblico de envio missionário registrado pelo Espírito Santo, através da pena do doutor Lucas.

Ele inicia a narrativa descrevendo como a igreja de Antioquia era servida por profetas e mestres. Aqui, ele alista aqueles que estavam dispostos para o serviço do Senhor (13:1). A seguir, passa a descrever como os missionários foram solenemente nomeados numa reunião da igreja.

Esta narrativa descreve a primeira missão planejada aos gentios. Planejada e posta em prática pela igreja de Antioquia, não sendo uma decisão de pessoas isoladas, mas sim de uma igreja local. Foi um movimento explicitamente dirigido pelo Espírito Santo e não resultante de perseguição como no caso da igreja em Antioquia, que surgiu por causa da perseguição após a morte de Estevão. O Espírito Santo chamou e a igreja abriu mão de dois de seus melhores líderes, os quais, depois de oração e jejum em prol da tarefa que estava diante deles, foram comissionados com a imposição de mãos, simbolizando com isto que se associavam com eles, recomendando-os à graça de Deus (cf. 14:26).

Isto vem mostrar que missões sempre foi o objetivo de Deus. A iniciativa de alcançar os perdidos sempre partiu primeiramente dEle. Foi Ele quem enviou seu Filho como missionário a este mundo contaminado e deturpado pelo pecado. Podemos observá-Lo mais uma vez, na pessoa do Espírito Santo, tomando a iniciativa e chamando a Barnabé e Paulo para levar Seu amor aos perdidos. A igreja, por sua vez, estava buscando a orientação do Senhor, querendo saber qual era a Sua vontade para ela. A resposta veio: Deus os queria ver profundamente envolvidos com missões. É interessante notar que a palavra grega usada para traduzir “os despediram” na nossa língua é apelysan (de apolyo = libertar, soltar, deixar ir), significando com isto que a igreja deixou os dois livres, abriu mão deles, para a tarefa para a qual Deus os havia chamado.

Fica patente que a promotora de missões é a igreja . Não deve haver trabalho missionário desassociado da igreja local, sem seu apoio de oração, pois a igreja é a retaguarda espiritual do missionário. É digno de nota o fato de que Paulo e Barnabé são encontrados em plena atividade na igreja. Primeiramente mostraram serviço onde estavam, por isso a igreja os apoiou, pois já conhecia o ministério deles. Deus chama quem trabalha, foi assim com Eliseu, Gideão, Davi, Amós e outros.

O compromisso entre a igreja e os missionários era mútuo, pois após o término da viagem, foi a esta igreja que eles regressaram para contar como Deus os havia premiado com o sucesso no trabalho missionário entre os gentios, sucesso ao qual também a igreja fizera jus.

Temos aqui o modelo bíblico para o envio de missionários ao campo de trabalho. Agindo assim, os missionários têm uma retaguarda que os apóia financeiramente e, o que é mais importante, espiritualmente, em oração. Paulo e Barnabé voltaram para a igreja pela qual haviam “sido recomendados à graça de Deus para a obra que haviam já cumprido” (At 14:26).

Hoje, com as complicações diplomáticas, muitas vezes a igreja se verá obrigada a enviar seu missionário ao campo, por meio de uma organização missionária especializada. Isto, de forma alguma, vem contra o parâmetro bíblico, pois, no final das contas, o missionário tem a retaguarda coberta por sua igreja local.

Falando um pouco sobre o tipo de trabalho desenvolvido por estes missionários (Paulo e Barnabé), é bom lembrar que eles não viviam simplesmente a viajar de um lado para outro sem rumo certo. Hoje, em muitas igrejas do meu contexto, a ideia que se tem de um missionário é daquela pessoa que vive cada final de semana em uma igreja diferente.

“…Recebemos um quadro falso da estratégia de Paulo se imaginamos que ele corria rapidamente em viagens missionárias de um lugar para o outro, deixando por detrás dele pequenos grupos de convertidos semi-instruídos; era sua política geral permanecer numa só localidade até que tivesse estabelecido os alicerces firmes de uma comunidade cristã, ou até que fosse forçado a ir embora por circunstâncias além do seu controle.”1
É bom lembrar que o livro de Atos narra acontecimentos que duraram anos. Quando o lemos, a impressão que temos é a de que as coisas aconteciam numa rapidez vertiginosa. Todavia, só o período das viagens de Paulo, duraram cerca de oito anos, talvez um pouco mais. Só em Corinto ele se demorou um ano e meio, em Éfeso ele permaneceu por três anos (totalizando quatro anos e meio somente nestas duas cidades). Com isto em mente, devemos abandonar a ideia errada de trabalho missionário itinerante. Missionário é aquele que é enviado a um determinado lugar e ali funda uma igreja, prepara uma liderança através de treinamento, para só depois, se assim for orientado, sair para outra localidade.
Missionário “independente” que se comissiona a si mesmo e não tem vínculo com uma igreja local está em desobediência para com a Palavra de Deus. Igreja que envia missionários, deixando a tarefa de sustentá-los (em oração e financeiramente) para os outros, também está em desobediência para com a Palavra de Deus.

Quando se fala do sustento do missionário, muitos são os que se apressam em emitir sua opinião. Existem aqueles que afirmam: “Quem sustenta é o Senhor. Portanto irmão, vai pela fé e confie que Ele te sustentará!” Outros dizem: “O justo viverá pela fé.” Ou ainda: Todo obreiro deve trabalhar para se sustentar, Paulo trabalhava.” É quase incrível que uma igreja inteira exija que o obreiro tenha fé que Deus proverá o seu sustento e não tenha, ela própria, fé que Deus pode prover os recursos para que ela seja usada para sustentar o seu obreiro. Ou seja, um obreiro deve ter fé por cem ou mais membros da sua igreja local. Isso me parece uma tremenda incoerência.

É verdade que todo obreiro do Senhor, seja ele evangelista, missionário, etc., deve confiar que Deus suprirá suas necessidades. Também é verdade que o justo deve viver pela fé! Mas espere um pouco, isto se aplica somente aos obreiros ou todos nós devemos confiar somente em Deus para o suprimento das nossas necessidades? A verdade é que muitos de nós descansamos no nosso emprego e não em Deus. Esquecemo-nos que Ele é a fonte de todas as bênçãos e que a Sua graça é que nos sustenta diariamente. Quem nos dá saúde e condições para que possamos trabalhar? E se vier a doença ou a fatalidade nos alcançar? Se a firma for à falência, o que faremos? O que temos que entender é que todo cristão, seja ou não obreiro, deve depender única e exclusivamente da graça e misericórdia de Deus. Isto não é um privilégio somente dos obreiros, missionários, educadores cristãos, ministros de música, evangelistas etc. (veja Mt 6:25-33).

Mas afinal, o que a Bíblia fala acerca do sustento do obreiro? Podemos partir de Mateus 10:9,10: “Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão: Porque digno é o trabalhador do seu alimento.” (negrito meu).

Já em Lucas, quando envia os setenta, Jesus diz: “…porque digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10:7 – grifo meu). Jesus diz claramente que aquele que se dedica integralmente ao ministério tem o direito de ser sustentado. Nestes dois textos os discípulos dedicariam todo seu tempo na pregação acerca do reino de Deus. Portanto, eles tinham o direito de receber sustento e salário. Mateus usa a palavra grega trophe ( ) que significa: alimento, comida. Lucas usa a palavra grega misthoy ( ) que significa: salário, pagamento. Somente estes dois textos nos dariam base bíblica para o sustento dos obreiros. Porém, Paulo desenvolve mais o assunto nas suas epístolas.

Vejamos I Timóteo 5:17,18: devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a escritura declara: Não amordaceis o boi quando pisa o grão. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário.” O que a Bíblia está dizendo é que aqueles que se esmeram em liderar a igreja, aqueles que a pastoreiam (no presente caso – os presbíteros – veja I Pedro 5:1-4) e especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino da Palavra, são merecedores de honorários, salário. Alguém pode argumentar que a palavra grega para traduzir honorários ( – “timés”) também pode significar honra. Porém, devido ao versículo posterior (v. 18), conter a mesma palavra usada em Lucas 10:7 para traduzir salário ( ), o contexto aponta mais claramente para a questão do sustento financeiro.

“A honra e o respeito da parte da congregação naturalmente estão em mira aqui, mas a inferência do v. 18 de que recompensas financeiras, ou de qualquer maneira materiais, estão sendo referidas primariamente aqui, não pode ser evadida. Não temos, é claro, qualquer ideia do caráter, escopo ou montante destas, mas a conclusão natural a ser tirada do v. 18 é que os respectivos presbíteros têm o direito de esperar da parte da igreja a sua manutenção. Este princípio está em completa harmonia com a atitude de Paulo conforme é revelada noutros lugares. Embora preferisse não tirar vantagem dele pessoalmente (1 Co 9:3-18; 1 Ts 2:7-9), sempre defendia vigorosamente o direito dos apóstolos e seus assistentes serem materialmente sustentados pela comunidade”.3

A afirmação de que os presbíteros são merecedores de redobrados honorários é baseada no Antigo Testamento (“não amordaces o boi, quando pisa o grão”) e no próprio Senhor Jesus em Lucas 10:7. Ficando claro e patente o fato de que os obreiros devem ser sustentados pela igreja.
A bem da verdade, é necessário frisar que Paulo trabalhava, mas que apesar de trabalhar, também recebia salário de algumas igrejas. Isto ele mesmo declara em 2 Co 11:8: “Despojei outras igrejas recebendo delas salário, para vos poder servir.” Diz mais: “E sabeis também vós ó filipenses, que no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo, no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para a Tessalônica mandaste não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades. Recebi tudo, e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio da vossa parte, como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Fp 4:15,16,18 – negrito meu).

Sabemos que em sua segunda viagem missionária, Paulo chegou a Corinto e, juntamente com Áquila e Priscila, começou a fabricar tendas. Esta era sua profissão, fabricante de tendas. Porém , como lemos, quando em Corinto, Paulo também recebeu salário de outras igrejas. Sabemos também que ele permaneceu nesta cidade por um ano e meio (At 18:11). O que muitos ignoram é que, quando recebeu ofertas, ele parou de trabalhar e se dedicou integralmente ao ministério. Senão vejamos: “Quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, Paulo se entregou totalmente à palavra, testemunhando aos judeus que o Cristo é Jesus” (At 18:5).

É ponto pacífico que Paulo, quando necessário, trabalhava, mas também fica claro que, quando recebia ofertas, ele parava de trabalhar e dedicava-se integralmente ao serviço do Senhor.

Por último, vejamos Paulo defendendo mais uma vez o direito dos obreiros: “A minha defesa perante os que me interpelam é esta: Não temos nós o direito de comer e beber? E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? Ou somente eu e Barnabé não temos o direito de deixar de trabalhar?” (1 Co 9:3-6). Paulo fala da necessidade que o obreiro tem, como humano que é, de se alimentar como todo mundo. Ou seja, tapinhas nas costas e elogios não enchem barriga! Depois continua falando da necessidade de se fazer acompanhar pela esposa (implicando com isso que também elas devem ser sustentadas) e dá a entender que, excetuando ele e Barnabé, os outros obreiros não trabalhavam em outros empregos. Não está, com isso, condenando os que não trabalham, pelo contrário, como veremos a seguir, está preparando os leitores para uma exposição mais clara do direito que eles tinham de agir assim.

Continua ele: “Quem jamais vai a guerra à sua própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? Porventura falo isso como homem, ou não o diz também a lei? Porque na lei de Moisés esta escrito: Não atarás a boca ao boi que debulha. Acaso é de bois que Deus se preocupa? Ou é seguramente por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança, o que debulha, faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. Se vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros participam deste direito sobre vós, não o temos em maior medida?” (1 Co 9:7-12a – negrito meu).

Paulo parte de situações conhecidas para ilustrar fatos que ainda não estavam bem claros nas mentes dos leitores Ou seja, que o obreiro deve se sustentar do ministério. O soldado é sustentado por aquele que o arregimenta, o lavrador desfruta dos frutos da terra e o pastor do leite do rebanho. Seguindo esta ordem natural das coisas, também o obreiro deve viver do ministério. Para não ser acusado de inventar esta doutrina, ele cita Deuteronômio 25:4 e afirma que a preocupação de Deus não é com o direito do boi, mas transcende para o bem estar daqueles que se dedicam integralmente ao ministério.

Qual tem maior valor, as coisas materiais ou as espirituais? Ora se os obreiros semeiam valores espirituais e eternos entre o rebanho, não seria de se esperar que recebessem bens materiais e transitórios? Seria muito receber salário para que possa sustentar sua família? A roupa do obreiro também se envelhece, a sola do seu sapato também se gasta, os seus dentes também são atacados pela cárie, os seus filhos também adoecem; como todos, eles precisam comer, se locomover e estudar. Ou seja, ele é humano e sujeito as mesmas coisas que nós. Falando num português bem claro: Ele precisa de dinheiro para as suas necessidades.

Paulo, depois de esclarecer que ele mesmo não usou deste direito na igreja de Corinto (como já vimos, em outras igrejas ele usou) continua a defender o direito dos obreiros: “Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados, do próprio templo se alimentam; e que o que serve ao altar, do altar tira o seu sustento? Assim ordenou o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 7:13,14 – negrito meu).
Nestes dois últimos versículos, o que Paulo quer mostrar é que isto já vinha sendo feito a muitos anos. Todo aquele que se dedicava ao trabalho no templo (penso aqui nos sacerdotes e levitas) recebia dali o necessário para se manter. Era dali que vinha todo o seu sustento e da sua família. “Disse mais o Senhor a Arão: Eis que eu te dei o que foi separado das minhas ofertas, com todas as cousas consagradas dos filhos de Israel; dei-as por direito perpétuo como porção a ti e aos teus filhos. Isto terás das cousas santíssimas, não dadas ao fogo: Todas as suas ofertas de manjares, e com todas as suas ofertas pelo pecado, e com todas as suas ofertas pela culpa, que me apresentarem serão cousas santíssimas para ti e para teus filhos. Também isto será teu: A oferta das suas dádivas com todas as ofertas movidas dos filhos de Israel; a ti, a teus filhos, e as tuas filhas contigo, dei-as por direito perpétuo; todo o que estiver limpo na tua casa as comerá. Todo o melhor do azeite, e do mosto e do grão, as suas primícias que derem ao Senhor dei-as a ti. Os primeiros frutos de tudo o que houver na terra, que trouxerem ao Senhor, serão teus: Todo o que estiver limpo na tua casa os comerá. Toda cousa consagrada irremissivelmente em Israel será tua. Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço da tenda da congregação” (Nm 18:8,9, 11-14,21 – Dt 18:1-8).

Assim sendo, o que Paulo estava afirmando não era novidade. era um princípio estabelecido por Deus para a manutenção daqueles que Ele havia separado para o ministério da antiga aliança, princípio este que deveria continuar vigorando para os que são separados para ministério da nova aliança (Notem que disse que o princípio de sustento deveria continuar e não o tipo e local de ministério). O obreiro tem o direito dado, não por Paulo, mas por Deus de ser sustentado pela igreja. É da igreja que deve vir o suficiente para as suas necessidades. Para mostrar que seu ensino estava em conformidade com a revelação divina, Paulo busca apoio nas palavras do próprio Senhor Jesus. O Senhor Jesus deixou a ordem aos que pregam o seu evangelho que dele vivam! Com Paulo poderíamos argumentar em contrário, mas qual de nós ousaria questionar esta ordem deixada pelo Supremo Mestre?! Verbalmente nenhum cristão sincero o faria, mas, na prática, é o que muitos de nós temos feito dia após dia.

Ao se falar em projeto missionário na igreja, é incrível a capacidade que temos de arranjar desculpas para não participarmos: “Ah, meu irmão, nossa igreja é tão pobre! Ah, meu irmão, nós não poderíamos sustentar um missionário no campo! Porém, quando olhamos para os suntuosos templos, quando damos uma olhada no pátio da Casa de Oração e vemos veículos do ano com acessórios de última geração, fica difícil acreditar que somos tão pobres assim. Isto sem falar nas casas, roupas, jóias, etc. Já foi provado que, proporcionalmente, os que mais possuem são os que menos investem na obra do Senhor. Assim, com nossas atitudes, vamos diretamente contra as palavras ditas pelo Senhor Jesus. Portanto cabe aqui uma advertência deixada por Ele próprio: “Porque me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6:46).

Tenho defendido o direito do obreiro ser sustentado pela igreja. Contudo é de suma importância frisar que a principal motivação de se entrar no ministério nunca deve ser financeira. Uma das objeções que se faz ao sustento do obreiro é que (em algumas denominações) alguns têm espoliado as igrejas exigindo salários altíssimos. Quem assim age não passa de um mercenário, pois visa somente o lado financeiro e não o dar-se em amor pelo rebanho que Deus tem colocado sobre sua direção. A Bíblia faz severas advertências em relação a ganância. Uma delas se encontra em I Pedro 5:2 e adverte, entre outras coisas, àqueles que buscam o ministério somente por “sórdida ganância”, visando o lucro pessoal, o status financeiro, a posição de O obreiro, O missionário etc.

Não acho errado o obreiro receber um bom salário. Se a igreja tem condições de lhe dar um bom salário, amém por isso! Mas quando um servo do Senhor tira o sustento da boca dos filhos dos membros da igreja com apelos emotivos e promessas fúteis, aí então alguma coisa está errada. Quando um obreiro exige um salário além da possibilidade da igreja, algo não anda bem com este irmão. Aqueles que não hesitam em deixar uma igreja “na mão” por uma oferta de salário mais elevado, aqueles que vivem procurando igrejas que possam pagar salários melhores, este tais usam seu ministério para promover somente o seu bem-estar e estão pouco ligando para o bem-estar da igreja. Portanto, são mercenários e prestarão contas de tais atos ao Senhor Deus.

Todavia, é bom lembrar que devemos guiar nossa prática pela Palavra de Deus e não pelo mau exemplo de pessoas sem escrúpulos que andam no meio evangélico em geral. Se existem estes maus obreiros, existem muitos que realmente amam ao Senhor e, por amá-Lo, amam também a igreja e estão dispostos a servi-la de coração, não visando lucro, mas visando servir Àquele que os chamou para a bendita tarefa de edificar a Sua Igreja. Eles estão aí por toda a parte, nas cidades, no campo, nas selvas, nas favelas, etc.; espalhados pelos mais diversos recantos do mundo. São anônimos, não buscam o estrelato, mas somente realizar a tarefa no local onde Deus os colocou. É o direito destes que estou defendendo e não o dos inescrupulosos, dos gananciosos, dos MERCENÁRIOS.

Alguns me têm dito que quem envia o missionário é o Espírito Santo e que, portanto, a igreja local não deve enviar e nem impedir que o irmão saia para o campo. Concordo plenamente com a primeira afirmação; realmente quem chama e envia é o Espírito Santo! Porém no plano físico, no visível, no mundo material, quem Ele usa para enviá-los? A igreja local, é claro! Em Atos 13 quem separou foi o Espírito, mas quem impôs as mãos foi a igreja em Antioquia!

Podemos ver claramente a inter-relação Espírito-igreja, igreja-Espírito. Neste episódio vemos uma ação conjunta tal que transcende os limites da capacidade de compreensão do homem. Esta era uma igreja que andava no e com o Espírito Santo. O Espírito chama e usa a igreja para enviar e sustentar. Ou seja, Deus envia e sustenta através da igreja.

O resultado, como já notamos, é que esta comunhão, esta inter-relação pode ser vista também entre a igreja e o missionário e o missionário e a igreja. É assim que se deve fazer missões, pois este é o caminho apontado pela Bíblia. Portanto, é o melhor caminho a ser seguido.

Para encerrar, gostaria de dizer que me sinto muito à vontade para escrever sobre o sustento do obreiro por alguns motivos que esporei abaixo:

  1. Este era o meu entendimento antes mesmo de me tornar obreiro em tempo integral;
  2. Quando apresentei oficialmente a igreja em São Torquato o meu desejo de me dedicar integralmente à obra deixei bem claro que não fazia nenhuma exigência financeira da igreja;
  3. Não recebo salário de nenhuma igreja ou entidade; e por último;
  4. Creio firmemente que Deus pode e sustenta aos que chamou para o seu serviço, pois tenho experimentado isso em minha vida.

Todavia o caminho que creio ser bíblico é o que desenvolvi acima. Portanto, creio que muitas igrejas têm deixado de receber maiores bênçãos por não procurarem se despir das suas pressuposições e estudar profundamente e com seriedade este assunto.

Que Deus nos abençoe com um entendimento correto da Sua Palavra.

NOTAS

  1. Howard Marshall, Atos Introdução e Comentário, p. 204.
  2. Toda vez que me referir ao obreiro, estarei falando daqueles que se dedicam integralmente ao ministério, independente do tipo de ministério.
  3. Jonh N. D. Kelly, I Timóteo Introdução e Comentário, p.p. 119, 120.

Jabesmar A. Guimarães

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