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A Doutrina dos Nomes Amaldiçoados

Surge no meio chamado evangélico “doutrinas várias e estranhas” (cf. Hebreus 13:9) e é impressionante a criatividade de alguns líderes. Estão sempre inventando teorias e mais teorias que estão mais para “Tologia” do que para Teologia. Infelizmente há crentes ingênuos e crédulos que dão grande valor a tais “tologias” que não passam, como nos alertou o apostolo Paulo, de “fábulas de velhas caducas” (cf. I Timóteo 4:7). Aliás, é preciso ressaltar que não são somente os crentes ingênuos que seguem as “tologias”. Tem gente que julga maduro que também tem dado ouvidos a tais teorias.

Lembro-me nitidamente de um congresso onde um dos preletores respondeu uma pergunta acerca da doutrina da confissão positiva, esclarecendo que nossas palavras não tem o poder mágico que tal doutrina apregoa. Ao que um obreiro levantou-se e afirmou que as nossas palavras tem sim poder, pois ele tinha acabado de ler um livro que deixava isto muito claro. É lógico que ele não se referia a Bíblia.

Feita esta pequena introdução, passemos ao nosso assunto. Em 2005, para cumprir uma promessa feita a amigos queridos, fui visitar a uma determinada igreja aqui na Grande Vitória. Na saída fui presenteado com um livreto que, entre outras coisas, falava acerca da implicação espiritual dos nomes sobre as pessoas. Segundo o autor o nome traz influencias positivas ou negativas para o seu dono.

Não tenho mais o livreto, mas lembro-me que o autor narrou algo acerca de uma pessoa chamada Maria das dores que tinha muito problemas que, segundo ele, advinham do seu nome. Maria das Dores, segundo ele, dava legalidade[1] ao diabo para atormentar a pobre mulher. Então tal mulher teve que passar por um ritual de quebra de maldição para que Satanás fosse repreendido e não mais tivesse legalidade de usar o nome dela para prejudicá-la.

Dia destes, na apresentação de um livro acerca de nomes e seus significados li o seguinte: “Não convém dar a nossos filhos nomes que tenham conotação negativa, que expressem derrota ou tristeza. Escolhamos para eles nomes bonitos, mas que tenham, antes de tudo, um significado profético, que expresse nosso desejo para o futuro deles.”

Qualquer leitor da Bíblia sabe que no Antigo Testamento os nomes queriam transmitir e às vezes transmitiam o caráter da pessoa. Mas será que o possuidor do nome sempre fez jus ao seu significado? E mais, o simples fato de se dar um nome “bom” a um filho vai influenciar o seu caráter para o bem?

No presente artigo, pretendo desenvolver este assunto à luz da Palavra de Deus e, às vezes, me valerei do que se pode observar na prática. Nunca é demais lembrar que a autoridade final e a Bíblia e não a experiência. Já adianto que a Bíblia não trata diretamente sobre este assunto, mas nela poderemos achar resposta para esta questão.

É óbvio que devemos escolher cuidadosamente o nome dos nossos filhos. Se soubermos que um nome tem um significado antibíblico devemos evitar nomear nossos filhos com ele.  Mas a verdade é que há pais que deram nomes assim a um filho sem nem mesmo saber o que significava. Aliás a maioria da pessoas não sabem, por exemplo, que Cláudio significa “coxo”. Isto significa que ao dar este nome a um filho o expomos a uma maldição física? Será que por isso um Cláudio nunca poderá ser um atleta vencedor?

Conheço um irmão em Cristo de Chapecó que se chama Cláudio Cesar Bissolotti que conquistou 17 medalhas nos Jogos Abertos de Santa Catarina, parte delas quando nem ao menos era cristão. Sua filha, Cláudia, é atleta bem sucedida e, provavelmente, competirá nas olimpíadas 2012. Pela lógica da doutrina dos nomes amaldiçoados eles jamais poderiam ser atletas bem sucedidos. Certamente há Cláudios que fazem jus ao nome que carrega e andam coxeando pela vida, mas não tem nada a ver com seus nomes e sim com suas decisões e atitudes.

Jussara é outro nome tupi-guarani que significa: “aquela que tem espinhos” (espinhosa) talvez você conheça alguma que faz jus ao nome. Conheço Jussaras que são doces e meigas, outras nem tanto! Mara significa amarga, mas tem Maras que são doces no trato com os outros. Débora significa “abelha” e conheço algumas que realmente ferroam, mas conheço outras que são uma bênção.

O caso mais radical que conheço é o de uma pessoa de uma cidade do interior de minas que recebeu o nome de Jesus. Contudo, ele tornou-se em um homem tão mau que a população o apelidou de Jesus Capeta. Temos também o modelo brasileiro chamado Jesus Luz, que “namorou” a Madona. Pesquise e veja se seu comportamento condiz com um nome tão positivo. Quer nome mais positivo que Jesus Luz?

Poderia citar muitos outros nomes, mas vou encerrar com o meu próprio nome que é a junção de Jabes + Mar. Jabes é hebraico e significa “seco, ressequido”. Então juntando os dois nomes, seu significado seria “Mar Seco”, ou seja, um deserto. Mas posso garantir aos leitores que minha vida tem sido maravilhosamente abençoada, principalmente nos últimos 27 anos. Posso garantir a vocês que nunca participei de um ritual de quebra de maldições. O que a mudou para melhor do que era foi a conversão a Jesus Cristo no dia no qual o recebi como meu Salvador.

A verdade, queridos é que há pessoas com nomes de bom significado que tem um caráter ruim e há pessoas com nomes de significado ruim que tem um bom caráter.

É verdade que no Antigo Testamento há pessoas sim que tiveram sues nomes mudados. Deus  mudou o nome de Abrão [Pai Elevado] para Abraão [Pai de Multidões]. No episódio do vau de Jaboque Ele mudou o nome de Jacó [Suplantador] para Israel [O Que Luta com Deus] (cf. Genesis 32:22-28). Também temos o caso de Noemi [agradável] que, apesar do nome com significado positivo, por causa das suas desventuras, trocou o próprio nome para Mara [amarga]. Temos ainda o caso no qual o mordomo de Nabucodonosor mudou o nome de Daniel [Deus é Juiz] para Beltessazar [Bel Proteja Sua Vida?], o de Hananias [Jeová é Amor ou Jeová é Gracioso] para Sadraque [Servo do Deus Sin], o de Misael [Quem é Igual a Deus?] para Mesaque [A Sombra do Príncipe?] e o de Azarias [Jeová Ajuda] para Abede-Nego [Servo do Deus Nabu].

O que isto trouxe de maldição a aqueles quatro jovens? Pelo que vemos na sua história, nenhuma! Seus nomes foram mudados para pior, mas suas atitudes e seus corações continuaram ligados ao Deus todo poderoso. Não os vemos quebrando maldições e sim mantendo suas mentes e corações firmados no Todo Poderoso Jeová! Como crentes que eram, não deram a mínima para as superstições tolas dos babilônios.

Hananias, cujo significado é tão belo, foi o nome de vários personagens bíblicos, mas nos ateremos apenas a quatro. Em primeiro lugar, no AT, temos o profeta Hananias que foi repreendido por Jeremias por profetizar falsamente em nome do Senhor, recebendo deste uma sentença de morte (cf. Jeremias 28:1-17) e temos o Hananias amigo de Daniel.  Em segundo lugar, no NT, temos o Ananias (forma grega do hebraico Hananias, mas com o mesmo significado) que foi levantado por Deus para orar para que o recém-convertido Saulo voltasse a ver (cf. Atos 9:10-17) e temos o Ananias, marido de Safira, que mentiu ao Senhor ao entregar a igreja parte do valor do campo dizendo ser o valor total da venda, sendo por isto morto pelo Senhor (cf. Atos 5:1-5). Quatro pessoas com o mesmo e lindo nome, mas com atitudes diferentes. Um bom nome não é garantia de bom caráter.

Prometi aos leitores basear minhas argumentações principalmente na Bíblia, pois ela nunca nos conduz ao erro. Já o fiz acima e agora me aterei apenas a ela. Pensem comigo, será que os apóstolos, principalmente o apóstolo Paulo, que foi o autor de quase todas as epístolas que compõem o Novo Testamento, não saibam da doutrina dos nomes amaldiçoados? Caso soubessem, não teriam eles nos deixado instruções claras quanto a isto, já que se trata de algo tão sério?

Vejamos os nomes de alguns crentes das igrejas do Novo Testamento.

Ninfa (Cl 4:15)

Narciso (Rm 16:11)

Hermes, Hermas (Rm 16:14)

Nereu (Rm 16:15)

Olimpas (Rm 16:15)

Apolo (At 18:24; I Co 16:12)

Vejamos agora o significado de cada um destes nomes:

Ninfa: Ninfas são divindades femininas secundárias da mitologia grega que habitam o campo, principalmente junto às fontes e estão ligadas à terra e à água.

Narciso: Uma divindade que era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza.

Hermes: Era, na mitologia grega, um dos deuses olímpicos, filho de Zeus e de Maia, e possuidor de vários atributos.

Hermas: Na Grécia antiga, uma herma, era um pilar quadrado ou retangular de pedra, terracota ou bronze (o estípite) sobre a que se colocava uma cabeça do deus Hermes, representado normalmente com barba (símbolo da força física). O pilar era mais largo por cima que na parte inferior, como símbolo de virilidade e disposição à luta.

Nereu: Na mitologia grega, Nereu é um deus marinho primitivo, representado como um personagem idoso – o velho do mar. Era filho de Pontos e de Gaia. Desposou a oceânide Dóris e foi pai de cinquenta filhas, as Neréiades, e de um filho, Nérites. Acreditava-se que o seu reino era o Mar Mediterrâneo, e mais particularmente, o Mar Egeu.

Olimpas: “divino”

Apolo: Uma das divindades principais da mitologia greco-romana, um dos principais deuses olímpicos. Filho de Zeus e Leto, possivelmente, depois de Zeus, foi o deus mais influente e venerado de todos os da antiguidade.

É impossível deixar de perceber que todos estes nomes foram dados aos filhos por pais que queriam homenagear a falsos deuses. Não é notável o fato de Paulo, para quem por traz de cada ídolo havia um demônio (cf. I Co 10:20), mencionar estes irmãos de uma forma tão natural? Se realmente existisse alguma maldição nestes nomes, não seria o caso dele ter feito algo para libertar tais irmãos de tamanha maldição? Em uma das várias vezes que ele se refere a Apolo ele o faz assim: “Acerca do irmão Apolo…” (I Co 16:12). Irmão Apolo, é assim que ele o chama!

Como podemos notar, nem Paulo, nem outro apóstolo qualquer, em nenhuma das epístolas do NT deixa a mínima margem para a crença de que nomes trazem bênção ou maldição sobre os seus donos. Caso assim o fosse, por qual motivo Paulo não deixou instruções para que tais irmãos trocassem de nome ou fizessem algum ritual para quebrar a maldição que seus nomes supostamente traziam?

A verdade é que Paulo sabia que o que muda a vida e destino eterno das pessoas não é trocar de nome ou quebrar supostas maldições. Ele sabia e pregava que a unica maldição da qual todos os homens deveriam ser libertos era a maldição da Lei, esta sim, uma terrível maldição que os levará a perdição eterna no Lago de fogo (cf. Gálatas 3:13).

Foi isto que aconteceu com uma pessoa que tinha um lindo nome que significava Útil, mas que era um Inútil. Refiro-me a Onésimo o escavo fujão de Filemon. Uma pessoa com um excelente nome e com uma péssima atitude. Ele havia fugido de Colossos para Roma e, provavelmente, havia roubado dinheiro de seu senhor (cf. Filemon 18). Em Roma ele encontrou-se com Paulo que o levou a ter um encontro pessoal com o Salvador Jesus. Isto o transformou em um novo homem e, conseqüentemente, em uma pessoa que fazia jus ao nome.

Outra passagem notável se dá quando Paulo precisou viajar num navio “que tinha na proa a figura dos deuses gêmeos Castor e Pólux” (Atos 28:11 – NTLH), ou Dióscuros (RA), filhos de Zeus, que eram os deuses padroeiros dos marinheiros. Sua figura estava entalhada na proa do navio. Paulo e Lucas haviam sofrido um naufrágio e estavam na ilha de Malta há três meses. Pelo que Lucas relata, ele e Paulo simplesmente entraram no navio e seguiram viagem até a Itália. Se fosse hoje é possível que algum crente crédulo não entrasse no navio enquanto não fizesse uma quebra de maldição e uma unção das estátuas com alguma espécie de óleo sagrado.

O que aprendemos com tudo isto? Aprendemos que os apóstolos não criam nesta doutrina e nunca passou em suas mentes que os crentes devessem trocar os nomes que receberam dos seus pais com a finalidade de escaparem de alguma maldição. Também não vemos nas epístolas nenhum mandamento no sentido de algum ritual de quebra de maldição advinda do significado de nomes próprios.

No começo do artigo falei de um pastor que disse que o nome Maria das Dores prejudicava a uma mulher. Conheci em Cruzeta (RN) uma Maria da Paz, que não tinha paz e uma Maria dos Remédios que ficava doente. Maria da Paz encontrou a paz que tanto precisava em Cristo e foi nele também que Maria dos Remédios encontrou o remédio que curou as feridas da sua alma.

Portanto, se você deu a um filho um nome sem saber o que significava e depois veio descobrir que o significado dele não é bom, descansa em Cristo. Se você é filho(a) e tem um nome com um significado que não é legal, descansa em Cristo também. Quem é dele não depende do significado de nomes pra desfrutar de paz, segurança e certeza de vida eterna.

Como vimos havia vários irmãos e irmãs com nomes que homenageavam a falsos deuses e nem por isso foram menos importantes na obra de Deus. E mais, tiveram seus nomes de batismo citados pelo próprio Espírito Santo que inspirou os autores bíblicos.

Espero que você tenha entendido que esta é mais uma teoria de quem quer colocar o povo de Deus sob um manto de medo e superstição, em alguns casos, com a intenção escusas de vender correntes de não sei quantas semanas de quebra de maldição. Fico penalizado ao saber que há muitos irmãos e irmãs carregando fardos terríveis que lhes são impostos por estas e outras doutrinas que não passam de engenhosa manipulação de versículos que são tirados do seu contexto.

Jabesmar A. Guimarães

09/02/2012

Nota sobre dar legalidade a Satanás


[1] Não sei de onde foi tirado o ensino de que Satanás só age na legalidade. Já li e ouvi pessoas dizendo que se um crente fizer isto ou aquilo estará dando legalidade para Satanás agir na sua vida. Na Bíblia fica mais do que claro que uma das mais marcantes características deste ser malévolo é exatamente desobedecer a lei de Deus e incitar pessoas a fazer o mesmo. Ou seja, ele ama andar na ilegalidade!

Uma das características do mal (e do seu maior admirador) é que, quando lhe interessa, ele se disfarça de bem atingir suas mais nefastas intenções. Satanás é enganador e se disfarça, ilegalmente, de anjo de luz para enganar os desavisados. Ou você acha que ele tem permissão de alguém para tal? Será que para cumprir sua principal missão que é Matar, Roubar e Destruir ele precisa de algum tipo de liminar? É obvio que não!

O bem, este sim, age dentro da legalidade, pois quem se guia por ele não pode usar meios ilícitos para atingir uma boa finalidade. Deus que é o autor do bem, sendo Ele mesmo o Sumo Bem, age dentro das regras, pois transgredi-las não lhe é possível. Por exemplo, Deus não pode mentir (cf. Tito 1:2). Portanto, Deus é quem age dentro da legalidade. Para Ele entrar numa vida é preciso que a pessoa o convide para tal. Satanás não, ele arromba a porta e entra na vida de pessoas que nunca o convidaram para tal. Ele é rebelde por natureza e sempre agirá na ilegalidade, pois a legalidade, esta sim, é contrária ao seu caráter.

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