A maldição hereditária surgiu no seio das igrejas neo-pentecostais e tem encontrado abrigo até mesmo em algumas igrejas tradicionais. Crentes que, devido ao tempo de novo nascimento, já deveriam ser mestres na Palavra, estão sendo levados por estes ventos de doutrinas falsas que não resistem a um pequeno “esbarrão” da Palavra de Deus.
A doutrina da quebra de maldição consiste no ensino de que as pessoas, crentes ou não, são em geral alvo de maldições proferidas contra elas por seus antepassados, normalmente num momento de irritação ou algo semelhante. Segundo esse ensino, a mãe que disse ao filho rebelde: “Você vai se dar mal na vida. Não será ninguém se continuar assim.”, já pronunciou, com isso, uma maldição contra seu filho. Eles crêem que estas maldições sempre “pegam”, pois, segundo tais mestres, nossas palavras têm poder.
De acordo com essa falsa doutrina, outra forma de as maldições alcançarem uma pessoa é uma espécie de transmissão hereditária. Acredita-se que até mesmo os pecados e práticas cultuais diabólicas dos nossos ancestrais são suficientes para nos deixar sob maldição, pois essas culpas seriam transmitidas de geração a geração!
Esses mesmos mestres dizem que o resultado dessas maldições é que o amaldiçoado fica com a vida “travada”, não prospera e nada do que faz dá certo. Faz-se então necessário quebrar a maldição a fim de que o indivíduo goze de vida feliz e abundante. Mas como fazer para que ele viva uma vida cristã sem enfermidades e próspera?
Segundo os ensinadores de tais tolices, a solução para as pessoas que vivem debaixo de maldições é fazer orações especiais aprendidas em correntes de orações. Em algumas igrejas são realizados cultos de quebra de maldição durante alguns dias ou semanas. Os interessados em se livrarem da maldição que paira sobre si devem participar desses cultos sem faltar a nenhum. Os pregadores dessa heresia garantem que no final a maldição terá sido quebrada. Há caso nos quais os especialistas em quebrar maldições vão a uma casa onde, num determinado dia, reúnem todos os membros (mesmo os descrentes) de uma determinada família supostamente oprimida por maldições. Ali se realiza um culto especial com orações e repreensões a maus espíritos. Quando tudo acaba, os membros da família (até os incrédulos) são declarados livres da maldição que os assolava. Se por acaso a situação deles não mudar, a explicação é sempre a mesma: falta de fé por parte de alguém.
É impossível encontrar na Bíblia apoio para essas idéias. O que as Sagradas Escrituras ensinam é que todos os homens estão debaixo da maldição da Lei, e é necessário receberem a Cristo como Salvador para que se livrem da condenação eterna. Diz o apóstolo Paulo que todos os que transgridem a Lei de Deus estão sob maldição (Gl 3.10 ver também Pv 3.33). Logo, conclui-se que todos os homens são amaldiçoados, uma vez que todos transgridem a Santa Lei (Rm 3.10-12).
A Bíblia afirma que a solução definitiva para a maldição da Lei foi que Cristo nos resgatou da maldição da lei fazendo-se Ele próprio maldição em nosso lugar quando foi pendurado no madeiro (Gl 3.13). Por isso, quando alguém crê em Cristo, imediatamente se beneficia do Seu sacrifício e é resgatado para sempre da terrível maldição que o levaria ao inferno (Rm 5.1; 8.1). Se, todavia, o homem permanecer rebelde, não crendo em Cristo, não entregando a vida a ele, enfim, não o recebendo como Salvador (Jo 1.12), o próprio Senhor diz que “a ira de Deus sobre ele permanece” (Jo 3.36) e o trata como “maldito” (Mt 25.41).
Quanto aos salvos, o ensino bíblico sobre sua condição é que eles não têm que se preocupar com nenhum tipo de maldição. Quer seja proveniente dos seus ancestrais nem de quem quer que seja. A Palavra nos ensina que somos novas criaturas, que para nós as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo (II Co 5.17). Diz também que não há por que nos preocuparmos com as coisas que para trás ficaram. Em lugar disso devemos manter os olhos fixos no futuro glorioso que nos espera (Fp 3.13,14). O ensino bíblico vai além, e afirma que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo (Rm 8.1), portanto, não precisamos viver atemorizados (Rm 8.15), pois o Senhor nos protege e cuida de nós com zelo inigualável (Rm 8.31-39).
O Novo Testamento enfatiza que a obra de Cristo em favor dos crentes foi suficiente para libertá-los do poder do pecado (Cl 1.13) e fez deles membros da raça eleita, da nação santa (I Pe 2.9), contra quem as portas do inferno não podem prevalecer (Mt 16.18). Acerca dos salvos pode-se dizer o que Balaão foi forçado a dizer acerca de Israel: “Como posso amaldiçoar a quem Deus não amaldiçoou?… Ele abençoou, não o posso revogar… Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel… Benditos os que te abençoarem e malditos os que te amaldiçoarem…” (Nm 23.8a, 20b, 23a; 24.9b).
Um texto do Antigo Testamento é usado para defender a doutrina da Maldição Hereditária.
É verdade que Deus, no Antigo Testamento, diz ao povo de Israel que visitaria a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração. Contudo, estes textos estão no Pentateuco e restringem-se a nação de Israel (Nm 14:18 e Dt 5:9).
Um texto do Antigo Testamento joga por terra a doutrina da Maldição Hereditária.
Mas como a revelação de Deus é progressiva, através do profeta Ezequiel, vemos o Senhor revogando este princípio. Leia Ezequiel 18:1-22. Observe que mesmo para o povo de Israel este princípio não vale mais. No texto em questão lemos de um pai temente a Deus que tem um filho ímpio e odioso a Deus. Por sua vez, este homem ímpio tem um filho temente a Deus. Temos aqui três gerações de uma mesma família. Façamos uma análise das gerações apresentadas em Ezequiel capítulo 18:
- 5-9 – O pai, um homem justo – 1ª geração;
- 10-13; o filho, um homem Ímpio – 2ª geração;
- 14-17; o neto, um homem justo – 3ª geração.
Não há como deixar de observar que nenhuma geração é responsável pelo comportamento da outra e que cada um responderá pelos seus atos, quer sejam bons quer sejam maus. O texto diz que a única esperança para o ímpio é converter-se dos seus maus caminhos. Aqui vemos arrependimento e não uma seção de quebra de maldição!
Em relação às dificuldades que podem vir sobre nós, aprendemos na Bíblia que nem sempre são por causa de maldição ou pecado. Vejamos alguns exemplos:
1. “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9:1-3 negrito meu). Maldição Hereditária? Não! Plano do soberano Deus para manifestar o Seu poder naquela vida.
2. Paulo escreveu: “segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte” (Fp 1:20). Observemos que o sofrimento de Paulo não foi pequeno! Foi açoitado 5 vezes pelos judeus; açoitado três vezes com varas; foi apedrejado e dado como morto; sofreu três naufrágios; enfrentou vários perigos; passou fome e sede; passou frio (cf. II Co 11:24-27). Este homem tinha um “espinho na carne” que o fazia sofrer constantemente. A palavra grega designa um espinho enorme e pontiagudo. Seria como uma adaga afiada a atravessar-lhe a carne. Este “sofredor” escreveu: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8:18)
Segundo a ótica de tal doutrina, Paulo deveria estar debaixo de algum tipo de maldição. Os defensores dessa doutrina não conseguem vislumbrar que às vezes Deus permite o sofrimento na nossa vida para desenvolver nosso caráter, nossa confiança nele e aumentar a nossa fé. Não foi assim com Jó? Depois de tamanho e desesperador sofrimento ele pode dizer a Deus: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42:5).
Como temos visto, os rituais de quebra de maldição são desnecessários para os crentes. Todavia, se alguém não é crente, o único modo de livrar-se da maldição que pesa sobre si é arrepender-se dos seus pecados e render-se a Cristo. De nada valerá participar de cultos de quebra de maldição, fazer orações especiais ou coisas semelhantes. Somente pela fé em Cristo o indivíduo pode deixar de ser maldito e tornar-se bendito. Por isso, para o incrédulo, qualquer ritual de quebra de maldição é inútil.
Vimos que a quebra de maldição é desnecessária para o crente e inútil para o incrédulo, portanto, ela não serve pra nada! Logo, não há por que perder nosso tempo com essa prática supersticiosa surgida em anos recentes em mentes sem conhecimento da verdade.
Uma Última e Importante Observação
Não encontramos em todo o Novo Testamento um único versículo que afirme claramente que devemos confessar pecados de nossos antepassados. Portanto, os pregadores desta tolice ultrapassam o ensino das Escrituras colocando na boca de Deus aquilo que ele nunca disse. Isso é pecado e, por causa disso, sofrerão as conseqüências prometidas àqueles que acrescentam coisas à Palavra de Deus (cf. Ap 22:18; Dt 4:2. 12:32).
Quanto aos salvos, eles devem descansar nas inúmeras promessas bíblicas que lhe asseguram gloriosa posição espiritual que é a de assentados juntamente com Cristo nas regiões celestiais (cf. Ef 2:5,6). A nossa vida está escondida (abrigada) juntamente com Cristo, em Deus (cf. Cl 3:3). Portanto, nenhum tipo de maldição supersticiosa pode nos atingir, Aleluia!!
“Quanto mais perto de Deus e da Sua Palavra, tanto mais longe estaremos de superstições tolas” (anônimo).
Jabesmar Guimarães