Definição (Aurélio): 1 .Ato ou efeito de tentar. 2. Disposição de animo para pratica de coisas diferentes ou censuráveis.
Definição de tentar (Aurélio): 1. Instigar para o mal, para o pecado: O diabo tenta as boas almas. 2. Causar desejo a; despertar vontade em; ou provocar, tendo determinado fim ou objetivo. 3. procurar seduzir.
A idéia bíblica de tentação não é primariamente a de sedução, conforme se pensa atualmente, mas a de por uma pessoa em prova, de sujeitá-la a um teste. Isto pode se feito com o bom propósito de melhorar a sua qualidade, ou então com o propósito mal de mostrar a sua fraqueza visando levá-la a cair ou a praticar uma ma ação. Então tentar significa basicamente testar. O sentido de aplicá-la sempre no sentido de testar com má intenção é recente.
Tanto o hebraico massâh como o seu equivalente grego pirasmos significam tentar. O que define se é provação ou tentação é o contexto no qual a palavra aparece. Ou seja, na hora de traduzir a palavra do hebraico ou do grego para o português a pessoa deve escolher qual sentido se encaixa melhor na frase, no texto. Por exemplo: Quando se refere a Deus normalmente é no sentido de testar, provar; quando se refere a Satanás normalmente é no sentido de tentar e quando se refere a pessoas pode se aplicar nos dois sentidos.
Deus provou a fé de Abraão (Gn 22:1ss); o diabo tentou ao Senhor Jesus (Mt 4:1ss) e tenta aos homens com o intuito de fazê-los abandonar a vontade de Deus (Jo 1:12, 2:6; ICo 7:5, 10:13).
Nós, porém, nos ateremos somente ao sentido negativo da palavra, pois creio ser o que nos interessa no momento.
A pergunta que originou o estudo foi: O que é tentação? E também, Tentação fugir ou enfrentar? Creio que a primeira pergunta já foi respondida, mas a segunda não tem uma resposta simples. Não há uma fórmula do tipo: Três passos para vencer a tentação. Porém, antes de responder a segunda pergunta vamos identificar mais duas fontes de tentação para nós.
Já identificamos uma fonte de tentação que é o nosso arquiinimigo o diabo. Mas ainda restam duas que também precisamos conhecer. Segunda fonte de tentação é o mundo ou este século.
O MUNDO: Quando a Bíblia se refere ao mundo neste sentido, esta se referindo ao sistema que rege a vida dos homens (busca do poder, riquezas, independência de Deus etc) amplamente difundida pelos meios de comunicação em massa, jornais, radio, televisão e revistas. A finalidade é levar os homens a ignorarem a existência de Deus, ficando assim livres para decidirem o que fazer de suas vidas.
“À medida que o cristão se deixa moldar segundo a “estampa” deste século (Rm 12:2), sua consciência permite praticas como o divórcio, o aborto, a sonegação de impostos o suborno”[i], a mentira, o orgulho, a falsa humildade (talvez esta seja a pior manifestação do orgulho), a busca desenfreada por dinheiro etc.
Esta segunda fonte de tentação, esta forte rede que invade nossas vidas, casas e igreja, tem levado muitos a caírem nos pecados descritos acima, mostrando assim seu poder ao derrotar não poucos cristãos. Muito mais poderia ser dito acerca do mundo, mas o tempo delimitado para o estudo não nos permite. Passemos, portando, a terceira fonte de tentação.
A CARNE: Este é o terceiro inimigo que nos faz tropeçar combatendo acirradamente nossa busca pela santificação. Quando a Bíblia fala em carne ela quer significar três coisas: Primeiro: A carne física. Aquele elemento material do qual é feito o nosso corpo e o dos animais. A mesma carne humana que formou o corpo do nosso Senhor Jesus (Rm 8:3; Cl 1:22). Deus foi o criador da carne. Segundo: Indica a descendência humana. Jesus descendia de Davi “segundo a carne” (Rm 1:3). Toda a raça humana descende de Adão e, de certa forma, esta ligada a ele. “A palavra “carne” transmite, nestes contextos, o sentido de ser a matriz que assegura o fato de que todo filho compartilha a vida comum com seus progenitores. Pertencendo a uma só carne, um parente não pode deixar de receber as características legadas pelos antepassados (cf. Is 40:6; iPe 1:24s)”[ii]. Terceiro: Significa nossa inclinação para o mal. A nossa natureza caída que sempre nos atrai para o erro e normalmente nos leva a pecar com o corpo. Assim como nossa carne física se decompõe, “a carne no sentido moral também apodrece, tornando o coração uma espécie de fossa negra de onde emanam idéias, atitudes, palavras e ações perversas”[iii].
Todos carregamos, nas profundezas do nosso ser, esta natureza perversa que, se não for dia a dia sufocada, se manifestara e nos arrastara ao pecado. Jesus mesmo disse que o que sai do nosso coração são: “os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez” (Mc 7:21,22). Esse câncer corrói o nosso relacionamento com o próximo (inveja, homicídio, furtos, adultério, fornicação, engano etc) e com Deus (arrogância, amor próprio, independência, insensatez etc). Também em Gálatas 5:19-21, estão descritas as obras da “carne”.
Temos então estas três fontes de tentação. Todas são perigosas para o crente e temos que vigiar diuturnamente para não cair nas ciladas que elas preparam para nós. Contudo, se não fosse a nossa natureza caída, ou seja, a carne, “Satanás teria pouquíssima possibilidade de tentar a humanidade e mantê-la sob o seu senhorio”[iv].
Agora tentemos achar resposta para a segunda pergunta que é: Tentação: fugir ou enfrentar?
Paulo aconselha a Timóteo dizendo: “Tu porém, ó homem de Deus, foge destas cousas” advertindo-o contra o perigo das riquezas (ITm 6:11). De outra feita diz: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade” (ejetem 2:22). Em sua epistola aos coríntios Paulo adverte: “Fugi da impureza!” (ICo 6:18); referindo-se aos pecados de imoralidade. Diz também: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (ICo 10:14).
Assim fica o conselho bíblico de, a exemplo de José, fugir das tentações que nos sobrevém. Fugir não significa apenas sair correndo, mas que devemos evitar aquelas situações nas quais sabemos que seremos tentados. Por exemplo, se meu problema é de cunho sexual devo tomar medidas para sufocar a carne cortando aquilo que a sustenta. Como disse o apóstolo não devo dispor de nada que me leve a desejos impuros (cf. Rm 13:14). Com a ajuda do Espírito Santo tenho que cortar tudo o que me incentiva a pecar nesta área. Devo tomar medidas radicais tais como cortar os filmes, revistas, livros e tudo que alimente minha natureza nesta área. Já para outros o problema pode ser ira, inveja, orgulho, sede de poder, materialismo etc. Cada um sabe onde “dói seu calo”, então cabe a própria pessoa tomar medidas para “fugir” da tentação.
Mas se por um lado devemos fugir da tentação, tem situações nas quais devemos enfrentá-la. Assim foi o caso de Jesus que teve que enfrentar as insinuações de Satanás no deserto. Tiago diz: “Sujeitai-vos, portanto a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugira de vós” (4:7). Como então podemos enfrentar o tentador e as tentações? Aqui diz que aquele que se aproxima de Deus o diabo foge dele. Jesus enfrentou ao diabo com a Palavra de Deus. É isso que nós também devemos fazer, ter sempre a mente cheia da Palavra de Deus. Se aproximar de Deus é imperativo para aqueles que querem ser vitoriosos na vida crista.
Para encerrar, nunca é demais lembrar que jamais poderemos vencer ou fugir das tentações por nossas próprias forças. Devemos, também lembrar que enfrentar a tentação não significa s achar forte o bastante para brincar com o pecado permanecendo numa situação que pode nos levar a cair. Somente aqueles que se firmam na graça de nosso Deus obtém vitória sobre o pecado. Devemos nos aproximar de Deus e nos fortalecer na Palavra para que, quer tenhamos que fugir ou enfrentar as tentações tenhamos vitória sobre nossos inimigos.
- [i]. Russel P. Shedd. O MUNDO, A CARNE E O DIABO, p. 25.
- [ii]. op cit, p. 50.
- [iii]. op cit. p.60.
- [iv]. op cit. p. 70.
Jabesmar A. Guimarães